<ranierisantos/>

4 Lições Aprendidas com o Professor Luiz Fernando sobre a Docência

Published: (Updated: ) in Uncategorized by .

Independente da sua área, se você ainda não conhece, você PRECISA conhecer o a história do Professor Luiz Fernando Gomes Soares (LF). Este nobre brasileiro ao longo da sua carreira como professor e pesquisador da PUC-Rio foi responsável por grandes avanços tecnológicos no país, em especial nas áreas de redes de computadores e sistemas multimídia. Sua principal criação, o modelo de interatividade multimídia utilizado no padrão brasileiro de TV digital já foi adotado por diversos outros países e se tornou padrão mundial pelo ITU. Ou seja, O Dr. Luiz Fernando criou a única tecnologia brasileira que se tornou padrão mundial.

Porém, as lições aprendidas com o professor LF são muito maiores do que linguagens de programação, códigos, ou modelos de interatividade. Este nobre senhor nos ensinou muito também sobre como ser professor!

Desde o início dos meus estudos sobre sistemas multimídia, a 10 anos atrás, os trabalhos do professor LF e dos seus alunos do Laboratório TeleMidia da PUC-Rio sempre me serviram como referência, dada a história e vanguarda que este pessoal cultiva na área. Durante este período tive a honra de conhecê-lo pessoalmente e de aprender muito, por consequência.

Curiosamente, quando eu estava à caminho da PUC-Rio para uma visita ao TeleMidia para conversar sobre o meu projeto de Mestrado que estava finalizando na UFSC, fui surpreendido no meu feed do Facebook com a publicação de uma edição especial da Revista Computação Brasil, da Sociedade Brasileira de Computação, editada integralmente em homenagem ao professor LF, que havia falecido em 2015.

Após ler toda revista pude conhecer outros pontos da vida do professor. Alunos, colegas e outros pesquisadores escreveram artigos contando suas experiências e resultados obtidos em sua convivência com o mestre. Esta simples leitura também foi mais uma aula que tive do professor LF. Por isso, resolvi resumir aqui algumas lições aprendidas com o professor Luiz Fernando sobre como ser um professor.

1- Ensinar quem quiser aprender

Encontrei o LF pela primeira vez foi quando fui apresentar meu artigo no I Simpósio Internacional de Televisão Digital. Uma das atividades era uma oficina prática de programação para a TV Digital com o próprio LF! Porém, como bom brasileiro, deixei para a última hora a minha inscrição e não consegui a minha vaga. No dia da oficina, fui até a sala do treinamento e procurei o professor LF, expliquei que não estava inscrito e que gostaria de assistir a aula. Prontamente o professor me disse que se fosse mesmo para aprender, eu poderia entrar na sala. Foi a minha primeira grande lição do mestre. A aula foi incrível, o domínio, o conteúdo e a didática do LF eram sensacionais.

Um ano mais tarde abriu uma seleção de estudantes para participação em um treinamento de uma semana na PUC-Rio, novamente com o professor LF. Eu inscrevi dois alunos meus, que foram aprovados. Porém, refleti que ambos eram menores de idade, teriam que andar por aeroportos, táxis, ônibus, etc… Novamente, por e-mail, recorri ao professor LF. Expliquei a situação e ele me falou que se fosse mesmo para participar, haveria um “espacinho” para o Ranieri na turma! E lá fui eu, para uma semana inesquecível na PUC-Rio com os meus alunos!

Seja por e-mail, nas listas de discussão da internet, ou por qualquer outro meio, o professor LF sempre esteve disposto a ensinar. Na teoria, nunca fui oficialmente seu aluno, afinal, nunca estive matriculado na PUC-Rio, mas na prática, por diversas vezes eu e muitos outros fomos alunos do professor LF, pois bastava querer aprender que ele ensinava!

2- Ser transdisciplinar

Apesar do extenso currículo, o professor LF não se apresentava com “carteiradas” citando seus títulos acadêmicos. Suas oficinas e treinamentos não eram unicamente para programadores ou profissionais de computação, eram para profissionais em geral, de comunicação, tecnologia, ou de qualquer outra área, que queira aprender. As turmas eram totalmente plurais, sem pré-requisitos rígidos ou amarras curriculares.

Em suas oficinas, era possível aprender com LF, programação, comunicação, didática e até mesmo história! Por ser altamente transdisciplinar, o professor LF para ensinar a programar as ações interativas na TV, utilizava um vídeo do “Primeiro João”, o primeiro oponente do jogador de futebol Garrincha na infância. Sendo assim, não há um aluno do LF que não conheça esta parte da história do futebol (sério, não há mesmo, posso apostar).

Durante as aulas, constantes eram as citações a eventos históricos, músicas, aspectos sociais do país, dicas de locais turísticos e temas culturais. Ainda durante a nossa semana de treinamentos na PUC-Rio, paralelamente às aulas “técnicas”, LF organizou outras atividades culturais e palestras para os participantes.

3- A sala de aula é uma família

Uma das principais características do professor LF era a sua humildade. A sala de aula liderada por ele era sempre extremamente dinâmica e divertida. Todos tinham atenção, todos tinha suas dúvidas sanadas e todos eram muito bem tratados. Na revista em sua homenagem não são poucas as citações de alunos regulares que relatam como foi sua entrada no “grupo de alunos”. Sempre muito solícito, LF incluía seus alunos até nos momentos sociais, elegendo quais instrumentos musicais cada aluno iria tocar.

Nunca vi o LF sozinho, em todas as ocasiões ele estava acompanhado de algum aluno regular, algum dos “filhos” da sala de aula que ele tratava como uma família. Seus alunos sempre seguindo os exemplos do mestre eram muito atenciosos com os participantes das oficinas e nos auxiliavam em tudo, da mesma forma que LF o faria. Membros desta família foram no nosso alojamento configurar o wi-fi, nos davam as dicas de quais linhas de ônibus pegar, quais locais eram seguros, etc. Fora todo o conhecimento técnico, os alunos dele eram exatamente como ele, como uma família.

4- Ser mentor de novos professores

Como um bom líder, ao longo da sua carreira docente LF criou vários outros professores e pesquisadores que hoje espalhados pelo país continuam seus estudos. Estes mesmos membros da “família” criada na sala de aula, constantemente aprendiam sobre “como dar aulas“. O grande professor LF sempre ensinou como ensinar, sempre tinha um aluno consigo, sempre dava novas lições.

Na revista em sua homenagem, conheci inclusive uma outra história. LF ajudou a fundar um projeto social em uma área carente. No projeto, haviam aulas de informática para as crianças do local e, adivinhem quem ele levava para dar estas aulas? Os seus alunos. Para encontrar estes professores mentorados pelo LF não é difícil, procure em qualquer buscador sobre pesquisadores e publicações na área de sistemas multimídia, TV digital e interatividade. Boa parte deles tiveram LF como orientador.

Entre 2010 e 2012 fui professor, praticamente em período integral. Após isso, parei de dar aulas e me dediquei à indústria de software e ao mestrado. Porém, após todas estas “aulas sobre como dar aula”, resolvi voltar à docência. Voltei para a sala de aula e resolvi não atravessar mais o rio da vida no porão do navio (citação ao LF). Sendo assim, no momento dedico a minha carreira a também construir novas carreiras e tem sido muito recompensador!

Na foto acima, estão os meus alunos Leonardo e Vitor, o professor LF e eu em 2011, no treinamento na PUC-Rio. Hoje, ambos os alunos são programadores 🙂

Para conhecer mais sobre o professor Luiz Fernando acesse aqui a edição especial da Revista Computação Brasil em sua homenagem.

Me diga agora, você também conheceu o professor LF? Como foi a sua experiência? Já teve um professor desses? Quer ser professor? Escreva aqui nos comentários.

Ranieri Santos é mestre em Tecnologias da Informação e Comunicação, além de bacharel, licenciado e especialista em outras áreas. Trabalha como analista de sistemas e professor de ensino superior.

Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *